segunda-feira, 10 de junho de 2013

Força é mudares de vida

Não sabemos como era a cabeça, que falta,
De pupilas amadurecidas, porém
O torso arde ainda como um candelabro e tem,
Só que meio apagada, a luz do olhar, que salta

E brilha. Se não fosse assim, a curva rara
Do peito não deslumbraria, nem achar
Caminho poderia um sorriso e baixar
Da anca suave ao centro onde o sexo se alteara.

Não fosse assim, seria essa estátua uma mera
Pedra, um desfigurado mármore, e nem já
Resplandecera mais como pele de fera.

Seus limites não tranporia desmedida
Como uma estrela; pois ali ponto não há
Que não te mire. Força é mudares de vida.


(Rainer Maria Rilke, beautifully translated by Manuel Bandeira)