sexta-feira, 9 de agosto de 2013

XVI

Devo viver entre os homens
Se sou mais pêlo, mais dor
Menos garra e menos carne humana?
e não tendo armadura
E tendo quase muito de cordeiro
E quase nada de mão que empunha a faca
Devo continuar a caminhada?

Devo continuar a te dizer palavras
Se a poesia apodrece
Entre as ruínas da Casa que é a tua alma?
Ai, Luz que permanece no meu corpo e cara:
Como foi que desaprendi de ser humana?


(Hilda Hilst)

segunda-feira, 10 de junho de 2013

Força é mudares de vida

Não sabemos como era a cabeça, que falta,
De pupilas amadurecidas, porém
O torso arde ainda como um candelabro e tem,
Só que meio apagada, a luz do olhar, que salta

E brilha. Se não fosse assim, a curva rara
Do peito não deslumbraria, nem achar
Caminho poderia um sorriso e baixar
Da anca suave ao centro onde o sexo se alteara.

Não fosse assim, seria essa estátua uma mera
Pedra, um desfigurado mármore, e nem já
Resplandecera mais como pele de fera.

Seus limites não tranporia desmedida
Como uma estrela; pois ali ponto não há
Que não te mire. Força é mudares de vida.


(Rainer Maria Rilke, beautifully translated by Manuel Bandeira)

sexta-feira, 29 de março de 2013

Ornamental knowledge

"Oho, now I know what you are. You are an advocate of Useful Knowledge."
"Certainly."
"You say that a man's first job is to earn a living, and that the first task of education is to equip him for that job?"
"Of course."
"Well, allow me to introduce myself to you as an advocate of Ornamental Knowledge. You like the mind to be a neat machine, equipped to work efficiently, if narrowly, and with no extra bits or useless parts. I like the mind to be a dustbin of scraps of brilliant fabric, odd gems, worthless but fascinating curiosities, tinsel, quaint bits of carving, and a reasonable amount of healthy dirt. Shake the machine and it goes out of order; shake the dustbin and it adjusts itself beautifully to its new position."

 (Robertson Davies, Tempest-Tost. Source.)